A Pele, O Nosso Maior Órgão de Prazer

São sensivelmente  dois metros quadrados de pele que nos oferecem uma imensidão de  possibilidades de prazer.

Neste tempo em que vivemos, onde o digital assume regência, bombardeando-nos com uma enorme avalanche de estímulos sonoros e visuais, a nossa capacidade para receber, processar e integrar os sentidos do tacto, olfacto e paladar vai ficando cada vez mais adormecida. Por outro lado, este mesmo tempo de turbulência e incerteza em que vivemos é fonte de níveis de stress e ansiedade que quiçá nos afectam também na vivência do amor de do sexo.

Como diz Ana Alexandra Carvalheira, investigadora na área da sexualidade, “Se formos mais capazes de estar sensorialmente no sexo, as questões da performance e da ereção perdem a excessiva relevância que costumam ter. Porque o sexo não é só coito vaginal.”

Temos dois metros quadrados de pele!

De facto, sexo não é só penetração, não é só coito vaginal e concentrar a experiência de prazer só nessa parte do corpo é altamente redutor. Temos dois metros quadrados de pele! E a pele está cheia de terminações nervosas que a tornam altamente sensitiva ao toque. E, por isso, tem um papel principal na vivência do amor e do prazer sexual.

Ainda no dizer da investigadora citada,

“A importância da pele na vivência do amor e do prazer tem vários aspectos a salientar. Por um lado, pelo seu papel no fenómeno da atração e escolha do parceiro. Num primeiro encontro, gostamos dos olhos, da boca e de outros atributos, mas também da pele. Não só pelas características como a cor e a textura mas também pelo cheiro que dela emana. Através da pele libertamos substâncias químicas – as feromonas – que são detectadas inconscientemente pela outra pessoa e que também determinam a atracção sexual… e como diz Félix López, o corpo humano é um “mapa erótico” cheio de vales, montanhas, atalhos, ribeiros, rios profundos e praias de areia cálida, que pode ser explorado e gozado. Por isso, pensar em zonas erógenas é redutor e obsoleto. Temos dois metros quadrados de pele para explorar. A verdadeira zona erógena é o cérebro, porque é ele que que recebe a informação e atribui (ou não) significado erótico aos estímulos.”

Daniel Amen, M. D., autor de Sex on the Brain também se refere ao cérebro como zona erógena  e corrobora o que diz Féliz López quando postula que “mesmo que pareça genital, a grande maioria do amor e sexo ocorre no cérebro. O cérebro decide quem é atraente para si, como arranjar um encontro, como comportar-se nesse encontro, o que fazer com os sentimentos que nascem e se se desenvolvem, quanto tempo duram esses sentimentos, quando é altura de assumir um compromisso…”

Então parece que temos um desafio:

não nos focarmos tanto nos genitais e deixar de ver o sexo meramente orientado para a penetração.

Há duas visões comumente aceites sobre a expressão sexual. A mais comum é aquela que é orientada para um objectivo, tal como produzir um orgasmo ou erecção. A visão alternativa é orientada para o prazer, na qual qualquer experiência que é satisfatória é um fim em si mesma.

Pessoalmente, agradam-me as experiências sexuais orientadas para o prazer. E, claro, nesta visão de sexo = a prazer, lá vem o papel da pele, esses dois metros quadrados onde é possível experimentar sensações eróticas tão intensas. Percorrer e adivinhar sensivelmente contornos, curvas e planícies é uma aventura amorosa na descoberta do nosso sentir e pode ser uma aventura surpreendente a descoberta da pele do outro.

Vagar e Presença

Deixar que, no toque físico, nos descubramos e nos revelemos pede um tempo sem pressas.

Com vagar e presença.

Pede também entrega,  rendição ao momento e ao processo de sentir. E pede a cedência do normalmente dominante sentido da visão. A quê? Às mãos, aos dedos, às pontas dos dedos. Deixar que sejam eles a descobrir a tal geografia de vales, montanhas, atalhos, ribeiros, rios profundos e praias de areia cálida.

Deixar que no toque físico nos descubramos e nos revelemos.

A nós e ao outro.

E permitir que o físico se expanda em ondas com coração e alma!

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