No sábado passado, a bordo de um autocarro que me levava ao Porto para no dia seguinte, a convite de uma amiga, facilitar um workshop presencial e vivencial sobre a temática “Eu e o Amor” – como encerramento de um ciclo de trabalho sobre relacionamentos que ela própria havia facilitado online – , escutei uma conversa de uma rapariga (não tinha como não ouvir tal era a intensidade dos decibéis produzidos) que era o exacto oposto daquilo sobre que íamos falar e vivenciar.
Resumidamente, a referida rapariga, recebe um telefonema e, em alta gritaria, desata a proferir insultos recheados de impropérios escatológicos com muita m**** à mistura, acusando-o de ser anormal, falso e mentiroso, que lhe ia fazer frito e cozido…..que esperasse para ver…e muita indignada porque, dizia ele, não podia ir esperá-la à chegada ao destino, contrapunha que não acreditava nas razões dele e que lhe ía fazer uma espera à porta de casa e que…e que …e que…no meio daquilo tudo queria saber onde é que ele tinha estado às tantas horas, o que tinha estado a fazer tanto tempo no sítio X…
Porque trago isto aqui?
Eu tinha como proposta para o encontro que ia facilitar no dia seguinte, tratar o amor em três dimensões: o amor comigo, o amor com @ outr@ e o amor com o Todo.
As palavras daquela rapariga eram um holofote gigantesco que apontava para uma tela onde me era mostrada a ausência total do amor em qualquer das três dimensões.
O filme abria com uma cena de desrespeito total por ela própria. Pela posição em que se estava a colocar: vingativa, furiosa, emocionalmente dependente e exigente, numa incapacidade patológica de escutar o “não” que vinha do outro lado.
Concomitantemente lia-se o desrespeito pelo outro nas palavras e no tom absolutamente ofensivo. Claro que eu só ouvia e via a protagonista. Não faço ideia da veracidade das “razões” que a assistiam. Só podia constatar e observar o que era observável. E o que observei, foi afirmação de direitos, exigência de obrigações e exercício de controlo. E muita desconfiança.
Por outro lado, como a energia electromagnética do coração pode ser medida a partir de uma distância que ultrapassa os 3 metros, o que significa que eu e outr@s estávamos no ‘campo do coração’ dela o que recebemos como irradiação foi stress, desarmonia e desamor.
O dito filme levou-me ainda a pensar o quão difícil é para o ser humano aceitar finais de ciclo; como se permanece em relações tóxicas, danosas, dominadoras ou mesquinhas por falta de coragem de aceitar os finais, por falta de coragem em trilhar o próprio caminho, por medo do desconhecido, por medo da solidão.
Não pude deixar de me perguntar: Onde estava (naquele casal) a individualidade, o respeito, a cumplicidade, a aceitação, a generosidade, a liberdade…o amor?
É que Amor e Liberdade são asas que voam juntas.
Eu ía falar de Amor. Amor com liberdade. E tinha que saber muito bem do que ía falar.