Erotismo deriva de EROS, que na mitologia grega era o deus do amor e, na versão mais aceite do seu mito, filho de Afrodite e de Ares. No entanto, Hesíodo antecipa a sua existência, pois considera-o filho do Caos, um Deus primordial, das origens.
Se consultarmos um dicionário, na definição de erotismo surge mais ou menos isto: “estado em que há sensualidade; excitação física ou sexual.”
Na wikipédia pode ler-se: “O erotismo é o estímulo sexual sem apresentar o sexo de forma explícita, que é o que diferencia da pornografia…”
São, no meu entender, definições bastante redutoras.
Eros não representa exclusivamente o desejo sexual. Eros é a força criativa da vida, o impulso humano e sagrado para o amor e a intimidade. Eros é o desejo primordial de nos expressarmos como seres físicos e espirituais, abraçando completamente a nossa sensualidade e sexualidade.
Como diz a escritora Anais Nin “ o erotismo é uma das bases do conhecimento de nós própri@s, tão indispensável como a poesia.”
Octávio Paz, poeta e Nobel da Literatura, diz que “o erotismo é a poética do corpo, o testemunho dos sentidos. Como um poema, não é linear, serpenteia sobre si mesmo, mostra-nos o que não vemos com os nossos olhos, mas com os olhos da nossa alma. Erotismo, é aquilo que a imaginação acrescenta à natureza.”
Segundo Ana Alexandra Carvalheira, psicóloga clínica e investigadora da Sexualidade, “o erotismo é tudo aquilo que é capaz de acordar o desejo e de nos predispor para a actividade sexual.
Património Erótico
E, no seu entender, “… ao longo da vida, com base nas nossas vivências, vamos formando património erótico. Uma espécie de Ficheiros Eróticos, onde guardamos memórias, imagens, cheiros, sensações, mas também fantasias, mais ou menos ficcionadas, umas para serem concretizadas, outras nem pensar. E é assim, ficheiros eróticos mais ricos, ou mais vazios. O que observamos é que, a um maior património erótico, corresponde uma melhor sexualidade.”
Corpo Erótico e Energia erótica
É sabido que, para além do corpo físico, temos um corpo erótico que é uma ramificação do corpo energético. O corpo erótico é algo que nos permeia, que entra dentro de nós mas que na maior parte do tempo está fora de nós. É como se fosse um véu que está ligado ao corpo físico.
A censura moral vinda das vozes de autoridade
“que decote tão exagerado, que saia tão curta, que maquilhagem tão ousada, que atitude tão atrevida, que andar tão provocante…”
fazem-nos encolher o corpo erótico e, em vez de irradiarmos beleza, naturalidade, sensualidade e empoderamento, curvamos os ombros e encolhemo-nos.
A energia erótica, que está constantemente a mover-se no nosso corpo erótico, flui mais ou menos em nós dependendo dos condicionamentos que temos.
(O descondicionar do que nos amputou, encolheu, tolheu e adormeceu é possível. Veja como em Encontra a tua Voz – Resgata o teu Eu Erótico.)
A energia erótica é profundamente sensual e amorosa, quer estar em contacto, tocar. É uma energia que amplia os sentidos e que pode ter ou não irradiação sexual.
Conecta-nos com o prazer e podemos experimentá-la em diferentes contextos: num toque de pele, a sentir o vento no corpo, a chuva na cara, a saborear um chocolate…
É por isso que à pergunta:
O que é para ti o erotismo?
As mais variadas respostas podem surgir:
…um toque subtil, tocar sem tocar…
…saborear um chocolate, demorando cada pedacinho na boca…
…um sopro na pele…
…acordar com o cheiro a feno no final do Outono…
…o gosto da chuva na cara…
…um sussurro ao ouvido…
…um roçar de lábios…
…a carícia da brisa…
…uma cereja a desfazer-se na boca…
Inteligência Erótica
Esther Perel, terapeuta de casais, autora e palestrante fala de inteligência erótica e do paradoxo de se querer tanto a aventura quanto a segurança nos relacionamentos.
Diz ela que os ingredientes necessários para manter o erotismo num relacionamento duradouro são o mistério, a curiosidade, a novidade sendo que a imaginação é o ingrediente central.
A transgressão, o proibido, a surpresa, o sair da rotina são também fortes mobilizadores do desejo a ter em conta.
Estará o Erotismo ameaçado?
No princípio das nossas relações ele está presente. Irradiamos o bom e o belo em nós para criarmos pontes de reconhecimento. Somos o máximo a trabalhar a energia erótica. A médio prazo com as rotinas da vida quotidiana deixamos de o nutrir. De repente deixa de haver tempo ou interesse para a sedução e o corpo erótico vai mirrando e diminuindo.
Por outro lado, no contexto social actual, o sexo é paradoxalmente hiperbanalizado e hipoerotisado. Deixou de haver lugar à imaginação. É tudo demasiado explícito, com a imagem a ser supervalorizada em detrimento dos outros sentidos. E vive-se a correr. Em frenesim. Quer-se tudo para já ou mesmo para ontem.
A vida vive-se no ecrã. No computador, no telemóvel, nas redes sociais. Cada vez mais ligados à web e cada vez mais desligados do corpo. Sem emoção. Sem poesia e cada vez mais apartados e dissociados da Natureza. Cada vez mais afastados do tempo sem relógio.
Corpos adormecidos, corpos desligados. E isso é o princípio do definhar do erotismo. Porque o sexo e o erotismo vivem-se no corpo. Com imaginação. Com sentir.