Queremos que os nossos relacionamentos comprometidos sejam românticos, bem como emocionalmente e sexualmente gratificantes. Difícil de conseguir, não é? Sobretudo a longo prazo.
Não queremos ficar pela metade. Não nos contentamos só com compromisso e amor romântico. Queremos o pacote completo. Também queremos erotismo, sexo excepcional, aventureiro e criativo.
De onde deriva este desejo tão absoluto?
Das nossas necessidades contraditórias. Por um lado, precisamos de segurança e ninho. Precisamos satisfazer a nossa necessidade de pertença – pertença a uma pessoa, a um grupo, a uma tribo. Mas, concomitantemente, albergamos também em nós a necessidade da novidade e da mudança e o desejo de liberdade e aventura.
Queremos segurança e aventura nos relacionamentos. E essas necessidades vão alternando e conflituando ao longo da vida.
Como diz Esther Perel “Valorizamos a nossa liberdade, mas impomo-nos uma estrutura para a regular. Valorizamos a nossa segurança, mas a paz de espírito pode deixar-nos ansiosos pelo mistério e pela espontaneidade”.
Pois é. É que o mistério e a espontaneidade são facetas cruciais do erotismo.
As ameaças ao erotismo, surgem quando o mistério, a imaginação e a espontaneidade ficam na gaveta do esquecimento da sua existência ou na gaveta do desleixo, do “dá trabalho”. E isso faz-se notar sobretudo nas relações de longa duração. No princípio o erotismo está presente. O desejo sexual está ao rubro e o sexo é o máximo. A médio prazo, com as rotinas da vida quotidiana e porque com o tempo vem o conhecimento do outro e a consequente perda de novidade, esquece-se a importância de nutrir a relação e o corpo erótico vai mirrando e diminuindo. O que se ganhou em segurança perdeu-se em erotismo.
Então, para conciliar essas duas forças contrárias que são a necessidade de segurança e a necessidade de liberdade, talvez seja útil navegar as duas ondas.
Como?
Alternando períodos de ousadia e riscos com períodos de busca de enraizamento e segurança. Conciliando a necessidade do que é seguro e previsível com o que é emocionante, misterioso e inspirador.
Para o erotismo fluir não podemos achar que conhecemos o outro na totalidade, porque com essa ideia não damos espaço para a curiosidade e a descoberta.
Numa entrevista, à pergunta “Será o erotismo o grande desafio num relacionamento? Como se pode preservá-lo numa relação?” a sexóloga Ana Alexandra Carvalheira responde dizendo que, para preservar o erotismo na relação, antes de mais é preciso evitar a dependência e a fusão com o parceiro. Tem de haver duas pessoas separadas. Cada um com os seus interesses, uns comuns e outros não.
“…a energia erótica resulta de uma dança bem dançada entre a conexão e a separação dos dois membros do casal. Ou seja, tem de haver ligação e atração entre ambos, mas ambos têm de suportar o movimento de separação e afastamento. O erotismo acontece nesse espaço que o casal é capaz de criar. Um espaço entre ambos, ora juntos ora separados, numa dança de abraço fluido ora aberto ora fechado. O erotismo precisa dessa separação para o desejo fluir”.
É que amor não é fusão e o erotismo requer separação.
Num relacionamento, quando um se afasta (e isto não significa necessariamente afastamento físico. Pode ser procurar o tempo e o espaço próprios para o seu crescimento individual ), cria esse espaço de separação que permite reacender o interesse e o desejo .