O Medo da Intimidade

Sendo o medo uma das emoções básicas do ser humano, ele pode expressar-se como um medo de algo que implique um perigo físico ou como um medo emocional.

E hoje abordo um medo emocional específico: o medo da intimidade, o medo de ser íntimo de alguém.

É comum ficarmos desconfortáveis com a intimidade, até mesmo com a intimidade connosco própri@s. Acanhamo-nos de olhar certas partes de nós, físicas e psicológicas, acanhamo-nos de nos explorar e sentir no corpo e na psique. Talvez porque tenhamos sido educad@s, ensinad@s, condicionad@s formatad@s na contenção, na vergonha, no esconder o que possa ser olhado como não bonito, não atraente, não aceite . E acanhamo-nos de nos mostrar, de nos revelar, de nos entregar.

No entanto…

a intimidade e a conexão estão entre as nossas maiores necessidades não atendidas.

Sermos realmente vist@s e ouvid@s, sermos verdadeiramente conhecid@s e reconhecid@s, é uma necessidade profundamente humana e a nossa fome disso é tão grande que, na falta de melhor “alimento”, procuramos compensações em substitutos como a televisão, redes sociais, comida, compras, sexo casual, álcool, drogas, pornografia, consumismo – qualquer coisa que nos iluda no aliviar da dor e nos faça sentir, ainda que aparentemente, conectad@s a algo.

Ser íntim@ de alguém inclui todas as diferentes dimensões da nossa vida

Não atribuo à qualidade de ser íntim@ só uma conotação sexual– sim, inclui o físico, mas também o emocional, o mental e o espiritual. Intimidade significa realmente compartilhar e, o que comumente fazemos nas nossas interacções, é evitarmos olhar nos olhos e atermo-nos a temas que não gerem desconforto e que não revelem as nossas fragilidades.

 Temos medo de amar

Temos medo de amar porque quanto mais próxim@s ficarmos de alguém, maior é o risco de haver dor. É o medo da dor que sempre nos impede de encontrar a intimidade verdadeira connosco e com @s outr@s. A grande maioria de nós já se magoou num relacionamento e são as feridas emocionais daí resultantes que nos impedem de uma nova entrega. O nosso inconsciente vai ditar-nos comportamentos e atitudes de “defesa” que mais não são do que a expressão do medo de voltarmos a sofrer.

É assim com todas as feridas emocionais. São proavelmente muitas as ocasiões em que nos julgámos rejeitad@s, abandonad@s, traíd@s, humilhad@s ou tratad@s de forma injusta.

A questão é:

como lidar com essa mágoa, com essas feridas?

  • Paralisando no medo de as reconhecer e tratar?

Se não as reconhecermos e tratarmos vamos eternizá-las e chamá-las de novo para as nossas vivências. Então, sozinh@s ou com ajuda, façamos o compromisso de as resgatar dessa zona sombria onde ficaram encalhadas e de lhes dar a luz da nossa consciência.

  • Construindo uma muralha que nos defenda?

Ao construirmos uma muralha em volta de nós para nos protegermos de que alguém entre e nos magoe, essa mesma muralha irá manter-nos a nós trancad@s dentro e manter as pessoas afastadas. O processo é o de desmantelar a armadura oxidada, deixá-la desmoronar e dar permissão ao que em nós já soube confiar e amar.

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