Tem fome de toque?

Podemos viver sem sexo, mas não podemos viver sem toque. Quando não somos tocad@s, ficamos irritáveis, agressiv@s, desregulad@s e deprimid@s. Precisamos do toque para nos sentirmos segur@s e também para estabelecermos ligações seguras. Precisamos do toque porque ele sinaliza confiança e conexão. Precisamos do toque porque acalma e é prazeroso.

Ao longo dos últimos vinte anos – altura em que nos começámos a conectar mais frequentemente online do que pessoalmente com as pessoas – sentiu um forte desejo de toque?

E isso tem-se acentuado neste tempo actual em que a conexão com uma pessoa estranha passou de uma oportunidade de namoro espontâneo para uma oportunidade de contaminação espontânea?  Esse desejo de toque tornou-se fome de toque?

…um dos efeitos colaterais mais difíceis do distanciamento imposto tem sido a solidão, especialmente nos momentos em que mais precisamos de um toque.

Nada pode substituir o segurar a mão de um ente querido, um abraço apertado a um/a amig@, um primeiro beijo ou sentarmo-nos ao lado de um estranho gentil.

Mas este período de distância dos outros deu-nos a oportunidade de explorar um tipo de intimidade física que frequentemente negligenciamos: aquela que vive dentro de nós. O auto-toque não só nos pode ajudar neste momento, mas pode ter efeitos duradouros no relacionamento que temos conosco. O auto-toque, seja por meio de massagem, masturbação ou de sintonização com a sensação dos elementos na nossa pele, sempre foi um apaziguamento. Nestes tempos, também se tornou a ferramenta mais segura e poderosa para o auto-cuidado.

A necessidade humana de toque

O toque em si é a nossa primeira linguagem e é composta por um vocabulário íntimo que inclui dor e prazer.

Quando alguém nos toca e recuamos, estamos a comunicar que estamos desconfortáveis. Quando alguém nos toca e os nossos músculos relaxam, estamos a dizer “Sinto-me bem. Sinto-me segur@.” O mesmo acontece quando nos tocamos. Quando nos damos um toque caloroso, esfregando suavemente a barriga ou coçando a cabeça, acalmamos o stresse cardiovascular e activamos o nervo Vago do corpo.

 Quando nos tocamos gentilmente, estamos a comunicar ternura e cuidado para todo o nosso corpo. Quando nos masturbamos, estamos a lembrar-nos que merecemos sentir-nos bem, relaxar,  ter tempo para o nosso próprio prazer.

Crescemos e vivemos num mundo de mensagens confusas sobre o toque físico e, principalmente, sobre o auto-toque. Aprendemos a suprimir a necessidade fisiológica, emocional e psicológica do toque. No mundo ocidental, quando entramos na idade escolar, somos informad@s de que a masturbação, uma prática natural que acalma, é proibida.

O corpo começa a esquecer como é natural e bom cuidar de si mesmo e esquecemos o poder que temos para nos sentirmos valorizad@s, satisfeit@s, dign@s – até mesmo amad@s.

A um nível muito básico, a internalização de mensagens negativas sobre o nosso corpo  bloqueiama  nossa capacidade de nos voltarmos para nós mesmos em busca de uma sensação de bem-estar. Perpetuar a ideia de que prazer, aceitação, valor e cuidado só podem vir de uma fonte externa mantém-nos dependentes de pessoas, empresas, governos e sistemas.

Vá em frente e toque-se!

 Está na hora. Reserve um tempo para si. Desligue o computador e coloque o telefone fora de alcance. Encontre cinco objetos que gostaria de tocar. Talvez seja um lenço de seda ou veludo, uma bola anti-stress, um livro com capa de couro, um óleo corporal … Sinta exactamente como cada um desses objetos é sentido na sua pele e o que torna a sensação agradável. Agora use as suas mãos. Como é que as suas suas mãos se sentem? Experimente toques diferentes: rápido e lento, leve e profundo, circular e linear, dorso da palma, frente da palma. Inverta a palma da mão para cima e use o dedo indicador para traçar um caminho da ponta do dedo médio até a dobra do cotovelo, com um movimento circular lento, muito lento, ainda mais lento.

Faça isso com os olhos fechados. Pense nos lugares do rosto e do corpo que você nunca toca. Explore-os. Observe como, quando você se toca, está a dar e a receber ao mesmo tempo.

Adaptação de um texto de Esther Perel

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